Nota do editor: Fala pessoal, hoje temos um novo Guest Post do Blue Raincoat, falando de um Manhwa, espero que gostem!!!
Uma de minhas obras favoritas é um mangá chamado Taiyou no Ie, e talvez alguém possa achar estranho um marmanjo carrancudo e (pseudo) elitista feito eu, gostar tanto de um shoujo melodramático. Mas eu realmente gosto de obras sensíveis e que extrai de mim não apenas emoções mais profundas, como também reflexões sobre como enxergo as pessoas do meu dia-a-dia e situações comuns. Taiyou no Ie fez isso comigo, me levando a repensar a forma como eu via minha família a valorizar mais essa palavra. Certamente, há muitos filme bons que trazem temas assim, Hirokazu Koreeda mesmo é um diretor que admiro bastante e que traz muitos filmes com reflexões sobre o que é uma família. Mas, ainda assim, eu ansiava pela fantasia dos mangás, a magia que me leva a mergulhar em um sonho que me faça rir, chorar, e ficar empolgado com frases de efeitos em fundos cintilantes. Sim, eu gosto de ver o mundo bonito que os mangás desenham em cima da nossa distorcida e suja realidade.
Levou um tempo para eu encontrar uma obra que despertasse em mim aqueles mesmos sentimentos e com aquela mesma atmosfera melancólica e acalorada de Taiyou no Ie, e foi uma felicidade enorme ter encontrado The Friendly Winter. Ele é o parente coreano de Recorder to Randoseru, (apenas em sua premissa), que conta a história de uma relação entre duas pessoas muito diferentes, e que ao mesmo tempo são muito parecidas. Da-Jeong, uma garota de 19 anos com uma doença hormonal que a impediu de crescer, ficando presa à uma aparência de uma criança pequena. E Min-Seong, um garoto de 17 anos com uma deficiência mental, que o deixa com a mentalidade de uma criança pequena.
Ambos os personagens sofrem com sentimentos de abandono, principalmente Da-Jeong que foi abandona por sua mãe e passou a viver sozinha com seu pai. A obra não explora as fases do crescimento dela até chegar aos 19 anos, então não há informações certas sobre seu período escolar e aprendizagem, mas é possível supor que ela não frequentou a escola, ao menos não inteiramente. E partindo dessa interpretação, é possível imaginar que ela passou boa parte de sua vida sozinha, já que seu pai trabalha e ela não tem amigos. Porém a personagem é bastante geniosa, ela é inteligente e aprendeu a tirar proveito de sua doença, mas também é visível suas frustrações e o quanto ela sofre com sua condição, alem de ter sido deixada por sua mãe.
Ao contrário da Da-Jeong, Min-Seong é frequentemente visto como um retardado por ser um rapaz alto atuando como uma criança e ao longo da obra esse problema acaba o levando à diversas situações de bullying, mal entendidos e pessoas tirando proveito de sua ingenuidade. Mas é a pureza e bondade do personagem que acaba conquistando Da-Jeong.
A profunda amizade que os dois personagens passam a nutrir e a forte ligação entre eles e seus problemas cresce com naturalidade ao longo da obra e nos leva à uma admiração que nos faz desejar fortemente a felicidade desses dois personagens, principalmente Da-Jeong, e que eles permaneçam juntos.
Todavia, a obra não apenas joga seus personagens em situações dramáticas pra você vê-los sofrerem e eventualmente sofrer junto. A intenção aqui é mais do que tocar o público, a intenção é nos levar a refletir sobre as situações em que eles se encontram e qual a razão desses acontecimentos. Diferente de muitas obras que são abordados temas que dizem respeito ao nosso dia-a-dia e parecem tentaram empurrar seus julgamentos do que é certo ou errado e pintam um vilão para nossos problemas, há obras como The Friendly Winter que nos levar a pensar sobre diversos problemas, com questionamentos para que nós mesmos encontremos as respostas.
Mais importante é que não irá encontrar um vilão aqui, alguém querendo separar os personagens ou nutrindo algum ódio por alguém. As desavenças nessa história vem da própria falta de compreensão dos personagens e erros cometidos que são dificilmente perdoáveis, erros dos quais cometemos todos os dias e provavelmente sequer pensamos neles por estarmos cegos com nosso egoísmo, orgulho ou simples falta de responsabilidade.
E apesar da dramatização que obras como essa normalmente trazem, esse manhwa carrega dramas reais e comuns presentes na vida de muitas pessoas, e o fato dos personagens ter que lidar com suas deficiências amplifica ainda mais seus problemas justificando cada lágrima derramada durante sua história.
Falando em lágrimas, você certamente irá ver muitas aqui. Eu digo, Um capítulo de The Friendly Winter sem lágrimas, não é um capítulo de The Friendly Winter. Provavelmente há mais lágrimas aqui do que em 1 Litre of Tears, então, esteja preparado com uma caixa de lenços perto de você, porquê a choradeira é contagiosa.
Apesar de eu ter muitos elogios para fazer aqui e declarar o meu amor, não é um manhwa perfeito e está longe disso, é um trabalho bastante amador no enquadramento e na montagem, seguindo o formato webtoon. E a arte, apesar de carregar um character design bem bonito até, não deixa de ser super genérica. Em termos visuais, não há destaques, porém segue sendo agradável e dificilmente verá algum quadro grotesco que te faça torcer o nariz.
Quanto ao elenco de personagens, com exceção da Da-Jeong, também não há muito o que destacar aqui. Os desenvolvimentos são razoáveis e contém bastante conflitos que os tornam bem humanos e normais. Entretanto, entre os demais, Min-Seong é quem mais se destaca, porém seu papel é muito mais o de um herói pessoal para Da-Jeong. Enquanto ela, nossa protagonista, é quem carrega a obra e toma conta de quase todos os quadros, conquistando os leitores com sua forte personalidade, suas falas afiadas e frases marcantes. Todos os problemas que Da-Jeong sofre e seus questionamentos nos leva a acompanhá-la e compreender sua solidão, angustia e medo. E o que torna isso tão bom é o poder que essa personagem tem de fazê-lo pensar sobre si mesmo e sobre lida com as pessoas em sua volta. Motivo esse que, inclusive, me leva a me empenhar tanto em recomendar essa obra.
The Friendly Winter é muito bom, é uma história leve apesar de trabalhar com temas complicados e pesados, e possui uma leitura rápida. Apesar de amadora como muitos webtoons, sua história não perde nada em qualidade comparada aos mangás. Mas o quanto você vai gostar dela irá depender do quanto ela irá te tocar. Apenas, deixe-a fazer isso.
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