terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Guest Post: Review: Hana Haru (Days of Hana)


Nota do editor: Fala pessoal, hoje temos aqui o Guest Post de um novo autor, o Blue Raincoat, falando de um Webtoon, espero que gostem!!!

Por que gostamos tanto de pets? Adotamos e tomamos para nós a vida de outros seres como mascotes e parcialmente cuidamos deles conforme nossa disposição. Mas eles são dependentes de nós? Não. Os criamos para serem assim, mas na realidade nós dependemos deles. Nós dependemos de toda a natureza em nossa volta.

Days of Hana (Hana Haru)


O Webtoon traz uma história onde coexiste com a raça humana, uma raça de homens lobos (muito semelhante a Okami Kodomo no Ame to Yuki). Com uma personalidade que mescla a de uma criança com um cachorro, eles são criados como pets e de baixo de leis rigorosas que os obrigam a usarem uma coleira especial e viverem sob a guarda de um dono.

Os personagens principais são Haru (Um garoto lobo adotado quando filhote) e Hana. Ambos cresceram juntos e com uma ligação muito forte entre eles, dormindo no mesmo quarto e muitas vezes na mesma cama. Apesar da profunda amizade e carinho entre eles, não existe malicia, sendo que Hana o vê como um irmãozinho e até mesmo como um cachorrinho, e Haru a vê com o mais puro sentimentos de amor e lealdade. Mas se tratando de um romance, a relação entre eles logo começa a tomar novos rumos.

Hana realmente tem uma personalidade de irmã mais velha enquanto Haru perece um moleque, tornando a relação entre eles facilmente empática que deixa aquele gostinho de quero mais dos momentos que estão apenas os dois. É uma relação extremamente natural e muito íntima que facilmente se encaixa ao fato de crescerem juntos sem a necessidade de mostrar todo o processo e construção desse laço.  

Complementando a família, há o pai de Hana, um ativista dos direitos humanos que vem trabalhando em prol de mais liberdade para os homens lobos, e Miho, uma mulher lobo que serve a família. Quanto a mãe de Hana, morreu quando ela ainda era pequena.

Inicialmente a obra trabalha com um tom bem leve, com bastante comédia e um toque de slice of life levemente melancólico que paira sob alguns momentos de solidão dos personagens quando estão afastados. Mas após uma aprovação do governo, com ajuda do ativista, homens lobos jovens são aprovados em um projeto educacional e passam a serem aceitos nas escolas. Mas numa classe especial para eles. A partir de então, Haru passa a ir à escola com Hana, e levemente os tons da história começam a mudar, nos levando a acompanhar a visão do Haru que parte de uma vida pacifica e ignorante para uma realidade preconceituosa, onde homens lobos são vistos como seres estúpidos e selvagens, ou no pior dos casos, escravos.


Alguns personagens novos são apresentados na história, são eles os jovens homens lobos e colegas de classe do Haru: Thor, grande e comilão; Pring, vaidoso e streamer; e Choco, pequeno e adorável, com apenas uma perna. Por último é introduzido Hook, que faltou nos primeiros dias e é servo de um garoto rico cujo Hana tem um crush. Hook é cheio de cicatrizes e não tem um olho, porém é alto e muito forte, além de atuar mal humorado e antissocial. 

Tanto os homens lobos quanto seus donos começam a se aproximar, mas um misterioso ar que permeia Hook e seu dono gradualmente vai tomando conta dos rumos da história e conflitos começam a surgir. A obra então passa a ganhar tons mais cinzas e um sentimento de aflição se torna recorrente com o sofrimento que gradualmente vai preenchendo Haru e lhe moldando à uma nova personalidade.

Após uma série de eventos se apaziguarem, a obra nos dá um pouco de “paz” para então vir a tempestade. E que tempestade.

Days of Hana joga uma isca ao seu leitor o levando para uma história bonitinha e até cômica em vários momentos, mas não engana ninguém sobre a escuridão que percorre pelas entrelinhas. Pouco a pouco os sentimentos de aflição se tornam maiores conforme o mundo vai se expandindo para o Haru, seja sobre a realidade em que vive, as injustiças que sua raça sofre e até mesmo sobre os sentimentos proibidos que desenvolve por Hana. Eventualmente, personagens maus também vão mostrando seus piores lados cada vez mais, enquanto a real natureza de outros também se tornam mais evidentes, como a pacifica personalidade reprimida de Hook. 

A política no plano de fundo exerce um forte papel, tendo passado, presente e futuro fortemente influenciando os eventos durante toda a obra e aos poucos se revelando como maior vilão e arma da humanidade. Um filme húngaro, chamado White God (o qual eu prefiro não recomendar por ser um filme muito triste) ganha notáveis semelhanças em Days of Hana em sua reta final, e apesar disso soar como um spoiler, eu garanto que é mais como um aviso. Assim como o filme citado, me sinto receoso em recomendar essa obra, mas por mais brutal e nebuloso que sejam seus eventos na reta final, aqui temos uma disparidade maior com a realidade e maior empatia, onde conseguimos torcer pelo mundo que Haru tanto almeja, além de trazer mensagens que acabam sendo muito importante para nos lembrar de quem somos e o que podemos nos tornar. 

Tenho poucas críticas quanto à obra, sendo que há coisas que poderiam ser negativas que nem relevei. Em principal, o que mais gostei nesse webtoon foi o relacionamento entre Haru e Hana, como já citado, há muita naturalidade, mas também destaco como ele não entra em cenas melosas ou naqueles clichês japoneses de embaraçamento constante. Aqui os personagens tem seus momentos, mas não enrola em seu progresso. Inclusive, a longa convivência entre ambos ajuda a evitar muitas mudanças na forma como se tratam.

Por outro lado, não sendo uma crítica negativa, mas a obra chega ao ponto de pedirmos arrego ao constante drama que se sucede nos últimos capítulos. E falando em drama, essa é uma obra extremamente dramática, mas habilmente não entra em dramalhões. Isso por que boa parte dos conflitos vem de situações externas e regras que fazem parte da realidade em que vivem, sendo poucos deles criados pelos próprios personagens, o que acaba não forçando conflitos, mas trazendo eles de maneira mais natural. E mesmo o sofrimento de alguns personagens se tornando cada vez maiores, ao invés de gritos e choros constantes, procuram se agarrar em esperanças, se confortar ou simplesmente agir.  

Quanto a eles, os personagens, grande parte do desenvolvimento é focado em Haru, ganhando uma evolução notável em seu lado emocional, físico, e também na forma de se relacionar com outros. O que começa com um personagem de aparência magra e pequeno, com uma personalidade de um moleque, resulta num belo rapaz cada vez mais maduro e inteligente.

Entre os demais personagens, Hana e Hook tem leves desenvolvimentos, outros como Choco, o dono de Hook, o Pai de Hana, e Miho ganham algumas cargas dramáticas ou mais profundidade em seus personagens. Fora esses, os demais permanecem apenas como apoio.


Ao decorrer do 3° ato, alguns deslizes são cometidos, pode se encontrar alguns erros de continuidade em sequências de ação mais caóticas e algumas reações (ou falta delas) contestáveis. Porém o mais relevante é a repetição na execução de determinado evento, que nas primeiras 2 vezes tem um impacto muito grande, mas na 3° e 4° vez podem acabar não causando o mesmo efeito e quebrando parte de seu impacto emocional. 

Mesmo que hajam essas e outras falhas, elas não ofuscam o peso dessa obra, pelo contrário. Essa é uma das histórias mais tristes que tive a oportunidade de ler, e ela faz muito bem em transmitir suas ideias mostrando ao seu leitor o impacto em que a ganância, o preconceito e o egoísmo humano, causam em vidas inocentes. É como se pegassem em nossas mãos e nos mostrassem uma vida feliz e pacifica, e então a destruísse lentamente na nossa frente. E sob esse objetivo o autor manuseia nossas emoções habilmente, e isso é o que realmente importa aqui, independentemente de sua qualidade gráfica e narrativa. 


Days of Hana é uma excelente obra que facilmente passa batido por sua sinopse ou sua capa que a vende mais como uma comédia romântica, quando na realidade a obra carrega um enredo denso e pesado sobre o ciclo repetitivo em que a humanidade está presa, que é destruir tudo aquilo que nos faz bem. 

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